Portugueses:

Nas circunstâncias da pandemia que vivemos, reconheço os valores que constituem a alma portuguesa e que se manifestam hoje com profunda esperança no nosso futuro comum. São exemplo disso a civilidade e a prontidão com que os portugueses se mostraram convocados para o bem de todos, visível na tranquilidade e prudência com que se respeitam as instruções das autoridades, reduzindo o comércio, fechando os escritórios ou limitando ao mínimo indispensável a saída de suas casas.

Não esqueço as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo e a forma como nesses locais de residência e trabalho tão bem têm representado Portugal quando é tão importante ser exemplo.

Uma palavra de enorme respeito e gratidão por todos os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e de lares que, em condições de grande tensão e cansaço, e grave falta de meios, têm sido inexcedíveis a cuidar dos doentes do covid-19 e das outras enfermidades, com altruísmo e generosidade, mostrando bem de que fibra são feitos. Assim também aos cientistas e pesquisadores nacionais que afincadamente procuram remédio.

Com apreço quero agradecer a todos quantos servem a comunidade que somos, minorando as consequências das circunstâncias e permitindo um confinamento tão confortável quanto possível – militares, bombeiros voluntários, forças de segurança, profissionais dos serviços básicos de limpeza, água, etc., das mercearias e supermercados, farmácias, e tantos outros.

Não esqueçamos o fundamental serviço prestado pelos agricultores. Agora mais do que nunca percebemos a importância de Portugal poder produzir uma boa parte do que todos consumimos…
Com alegria, vejo também a criatividade e engenho com os quais tantas empresas particularmente atingidas pela queda brusca da sua actividade se reinventam para acudir a quem mais precisa, criando propostas onde parecia só haver desalento: cozinhas de hotéis que trabalham para IPSS, restaurantes e pequenos negócios que fazem entregas em casa, e tantos outros.

A todos quantos se vêem com o seu sustento familiar subitamente interrompido ou diminuído, manifesto a minha total solidariedade.

Vejo com grande preocupação as muitas famílias que emigraram para Portugal com dificuldades económicas, em particular as do Brasil, terra Natal de minha Mãe. E fico feliz pelas muitas pessoas que continuam a ajudar aqueles que, por estarem aqui há pouco tempo, não beneficiam de apoio da Segurança Social.

Saibam que não estão esquecidos e que, como noutras crises, entre todos havemos de encontrar soluções para a vossa grande aflição.

Quantos voluntários e instituições caritativas multiplicaram esforços para chegar aos mais vulneráveis e atingidos, apoiados no reforço financeiro que de outras famílias lhes vai chegando através de donativos.

A todos os que, enlutados, sofrem a dor da morte nas suas famílias, a minha compaixão.

Nunca como agora se manifestou tão claramente a importância das várias profissões e a honradez do trabalho de cada um e quanto em sociedade dependemos uns dos outros.

É também nestes momentos em que lutamos contra um inimigo invisível que vemos como os Portugueses respondem com serenidade. Vemos como um número crescente de pessoas prefere comprar produtos agrícolas ou industriais produzidos em Portugal, contribuindo para diminuir o desemprego e a crise económica que ameaça a sobrevivência da nossa economia. As escolhas inteligentes são cada vez mais importantes para garantir o nosso futuro colectivo!

Nesta altura em que nos sentimos, de certa maneira, isolados não deixamos de pensar nas pessoas que estão mais sozinhas e desamparadas.

Havemos de viver esta crise também como oportunidade, firmes na grandeza das inúmeras qualidades que são as nossas, certos na Esperança que nos foi confiada.

Espero que esta Páscoa e esta provação nos tenha recentrado no essencial da vida e nos conceda a todos, crentes e não crentes, um espírito de renovação, de Paz e de unidade.

Sua Santidade o Papa Francisco disse que esta pandemia era “uma resposta da Natureza” face ao nosso comportamento. Que este aviso nos leve a respeitar melhor o ambiente, não esquecendo o respeito pela Natureza humana que inclui o direito à vida dos mais frágeis.

Peçamos à Imaculada Conceição, Rainha de Portugal, que mais uma vez proteja a nossa Pátria!

Assim também se cumpra Portugal.

Dom Duarte de Bragança

Sintra, 23 de Abril de 2020