Portugueses,

Durante este ano fomos confrontados com uma realidade que todos considerávamos improvável: uma Guerra na Europa. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem-se traduzido numa verdadeira tragédia humanitária, mas também económica. Todos os dias assistimos a uma destruição massiva da Ucrânia que deixará marca por várias gerações entre os dois povos.

Gostava de salientar a mobilização do povo português, que desde a primeira hora tudo fez para atenuar o sofrimento de milhares de refugiados.

Tivemos todos conhecimento de inúmeras iniciativas consertadas ou espontâneas por parte dos portugueses mostrando uma vez mais a força do nosso povo quando se mobiliza de forma solidária nos momentos mais importantes.

Recentemente tive a possibilidade de visitar a Ucrânia e inaugurar, nos subúrbios de Kiev, um complexo monástico que pode hospedar até duzentas pessoas em trânsito,  para a Hungria ou Polónia.

Esta é uma iniciativa da Real Irmandade da  Ordem de São Miguel da Ala, em cooperação com os Bispos Católicos Ucranianos e com o apoio dos membros da Ordem em Portugal e vários países.

A guerra vem agravar a nossa situação económica , que já era bastante frágil.

A inflação, a escassez de produtos, o aumento exponencial dos combustíveis e energia, vai dificultar ainda mais a nossa vida. Começamos a assistir a algumas situações que poderão causar grandes dificuldades durante o próximo ano. Em consequência, existe cada vez mais a necessidade de acorrermos às famílias mais desfavorecidas.

A sociedade deveria reconhecer o quanto deve à Igreja e agradecer aos milhares de portugueses que de uma forma voluntária colaboram nas centenas de instituições promovidas pela Igreja para ajuda de pessoas em alguma forma necessitadas.

Esta crise obriga-nos a acabar de uma vez com todas as situações de gritante corrupção que temos vindo a ter conhecimento nos últimos tempos. Esta é uma situação que sistematicamente produz uma sombra pesada sobre o país. Necessitamos de uma classe política forte e séria, e que esteja também decidida a fazer face aos desafios que se colocam a Portugal.

A melhoria gradual das condições de vida e da economia portuguesa nas últimas décadas são, felizmente, inegáveis. No entanto, é um facto incontestado que crescemos mais devagar do que a maioria dos outros países, pelo que os rendimentos das empresas e das famílias também se mantêm em níveis inferiores aos que desejaríamos obter.

Considerando que temos vindo a perder competitividade e oportunidades tanto nos periodos internacionais favoráveis, como nos desfavoráveis, esta evolução só se poderá atribuir a opções políticas e económicas erradas.

Ao contrário dos países mais prósperos, na República Portuguesa as pessoas e as empresas que obtêm sucesso, são vítimas de perseguição fiscal e de inveja social .

Em contrapartida, aquelas que são inactivas ou pouco produtivas, são continuamente promovidas e incentivadas, criando um país de subsídio-dependentes, viciadas em pedir e receber favores do Estado e fundos da Europa.

Espera-se sobretudo do Estado e das múltiplas instituições ligadas à economia, que criem uma envolvente propícia a uma maior criação de riqueza em Portugal.

Entre estes desafios, alerto para o crescente problema do envelhecimento da população, pois que de acordo com estatísticas recentes, seremos o país mais velho da Europa em  2050.

Em consequência desta situação e da estagnação económica que vivemos, cada vez mais, os nossos jovens procuram trabalho fora do país – longe das suas famílias e suas comunidades. Actualmente, mais de 40% dos nossos emigrantes estão na faixa etária entre os 20 e os 29 anos. São números impressionantes. Este caminho, levaria ao fim da esperança, o que não podemos deixar acontecer de forma alguma.

Os portugueses, sejam eles empresários, profissionais livres ou trabalhadores, tanto dentro como fora das nossas fronteiras, têm dado provas da sua capacidade de competir com os estrangeiros.

Cada vez mais precisamos de um projecto de Nação, que cada vez menos existe.

Como defendia o nosso saudoso Gonçalo Ribeiro Telles, de quem se celebram os cem anos do seu nascimento, “O novo modelo de desenvolvimento”— a que chamamos “ecodesenvolvimento” — tem por objectivo a dignificação do Homem, a Justiça, a defesa da Vida, a humanização criativa do território e o melhor aproveitamento, em cada momento, de todos os recursos garantindo-se a permanência da capacidade de regeneração dos que são renováveis, (…)

É absolutamente necessário, ao procurarmos viabilizar Portugal, fazer uma reflexão sobre o nosso passado (as raízes) e futuro como Nação livre e independente.”

Defendia Ribeiro Telles então uma  “ecologia integral”.

“Acima da legítima liberdade de opinião de todos os portugueses, do poder efectivo das repúblicas municipais, acima das divisões sociais e políticas e dos poderes locais, terá que existir uma instituição permanente e histórica (o Rei), que garanta a unidade nacional, a liberdade, a diversidade de opinião e de propósitos e o prestígio no contexto internacional. Só assim podemos continuar a ser uma Nação livre e independente e a desempenhar no mundo o papel a que a nossa história e civilização nos obrigam.”

Gostaria de terminar esta mensagem com uma referência à Jornada Mundial da Juventude que se vai realizar em Portugal em Agosto do próximo ano e que deverá juntar no nosso país mais de um milhão de jovens de todo o mundo.

A Igreja dá-nos esta oportunidade única de afirmar Portugal junto dos jovens num inspirador encontro de culturas que será com certeza inesquecível .

Como sempre, a minha família e eu próprio estamos à disposição dos portugueses para servir no que for entendido como necessário.

Desejamos a todos um feliz Natal e um  ano de 2023 abençoado por Deus!

Viva Portugal!